domingo, 18 de maio de 2008

Criança


As mãos frágeis, machucadas e pequenas se mexem rapidamente, com a agilidade de um adulto.

Os olhos escuros, sombrios, sem brilho. Parecem não verem o sol. Não verem com a devida beleza de uma criança.
Os cabelos loiros da menina caiem até as costas numa trança, o menino sussurra baixinho. Só pra si, ninguém precisa escutar.
Na verdade ninguém escuta.
Lá na rua, em baixo do sol escaldante com a enxada na mão os pais trabalham com ferocidade, as mãos com os calos pedindo descanso, as costas doloridas com o esforço. Os cabelos sujos e ralos parecem envelhecerem mais o rosto dos homens e mulheres jovens que lutam vivamente.
No interior do galpão as crianças continuam com seus silêncios pesados, uma angústia crescendo nos pequenos corações, os sonhos morrendo por falta de esperança...
As mãosinhas vão terminando de fazer uma boneca, depois outra, outra...
Os pés descalços e machucados tocam no chão frio, o estranho são suas palavras que poucas vezes são escutadas, palavras que não morreram, que continuam ansiando por alguém que as recolha no ar e guarde-as na alma.
O tempo parece passar devagar, devagar demais.
A fome é grande. O mal estar maior ainda.
Daqui, bem longe disso tudo meus olhos parecem verem essas pobres crianças sentadas no chão, as folhas de fumo na mão, os pequenos rostos sérios, a trança da menina loira. Lá, bem distante, eu sei que elas estão lá, com suas mãos envoltas no fumo, os corpos frios e esquecidos carecendo descanso e carinho.
Por mais distante que seja, meus ouvidos parecem ouvir o sussurro do menino sozinho...

"É triste saber que enquanto eu publico essa postagem uma criança está perdendo sua infância, sua pureza. É apavorante saber que ninguém estende os braços para elas se levantarem, que o homem venda os olhos para a merda na frente deles."

2 comentários:

rosa disse...

é triste mesmo menina.
está muito bom texto, profundo e real.
eu gostei ;)
tambem adiciono voce nos favoritos do blog.
abraço,
e até mais!

Joana e Bárbara disse...

Compartilhamos o mesmo lamento. E que o seu texto espalhe no ar a verdade misturada com poesia, a realidade sangrenta diante dos olhos.
Muito bom o texto.

Vou adicionar nos favoritos também!
abraços.