domingo, 20 de abril de 2008

Entre pais e filhas


Sempre houve um certo conflito entre eu e meu pai.
Seja por causa da música que eu ouço no rádio ou o modo que eu sento na cadeira.
Ele sempre critica o modo que eu me vestia: blusas pretas, calça jeans, all star. Depois usei maquiagem. Brigas.
Na verdade nunca fui dessas garotas se preocupar com muita maquiagem, até só uso lápis ás vezes.
Mas ele não gostava e eu não podia gostar.
Fui e ainda sou chamada muitas vezes de "ridícula".
Ah, claro, não posso ter amigos. Se está abraçado comigo ou em uma foto: "Quem é esse? Amigo? Sei...!"
Que merda, odeio desconfiança.
Me sinto como uma garota de contos infantis perdida num labirinto de livros e música onde um monstro corre atrás.
Depois a briga começou com meu amor com letras. Escrevia e escrevo muito.
Ele não aceitava. Mandava eu desligar o pc e dormir. No outro dia me perguntava o que tanto fazia.
"Tava escrevendo."
"O que tanto escreve?!"
"Meus textos."
"Que frescura."
Minha mãe tomava minha frente. Xingava ele e me dava apoio.
Ela chegou a gritar para ele que se ao menos ele se interessasse em ler algum conto poderia criticar. Mas não.
Minha mãe com raiva gritou: "Quando ela estiver com o livro dele como mais vendido e milhões de cópias ela vai esfrega na tua cara".
Ele riu ironicamente. Isso me machucou, muito.
Se meu pai não acredita em mim, quem vai acreditar?!
Hoje eu estava estudando música mesmo com uma dor de cabeça tremenda. Ele entrou no meu quarto e começou a usar o pc.
Eu estou aprendendo notas realmente agudas e claro que vai sair desafinado mas sem praticar nunca vai afinar. Por mais feio que seja temos que aguentar um momento para que amanhã tudo esteja bom.
Ele começou a criticar.
Pronto. Acabou a paciência.
Pode até falar das coisas que escrevo - sem ao menos ler - mas da música eu não admito.
Larguei o violoncelo e saí. Ele até me chamou de animal mas isso não importa. O que doeu foi o fato dele ter falado isso sendo que foi sempre que me apoiou na música.
Merda, porque ele não pode acreditar um momento em mim? Porque ele não pode esperar um pouco pra eu conseguir fazer algo certo?
É difícil guardar isso só pra mim - ele acaba de entrar no quarto. Pronto, já saiu -, ter que guardar as lágrimas para dentro do banheiro.
Queria saber escrever algo pra me sentir aliviada mas não acho bonito meus textos. Parecem tão artificiais.
Pra ele deve estar sendo difícil ver que sua filha está crescendo e não é o modelinho que ele sonhou.
Sim, não sou um robô da sociedade e nunca quero ser. Ás vezes minha mãe briga comigo por gritar com ele mas não consigo ficar quieta em frente a uma injustiça.
Queria que o tempo passasse que nem aquele filme "De repente 30" e já ter me tornado alguém na vida, e assim poder jogar na sua frente um ingresso para meu concerto ou jogar a sua cara o meu livro.
Depois ia querer voltar, para ficar tranquila, e estudar escondida em algum lugar longe dele e esperar o dia em que eu farei ele chorar. Por orgulho ou por arrependimento.